MOMENTO DE REFLEXÃO – 12-11-2017

«Senhor, senhor, abre-nos a porta!»

Depois de ter celebrado a Eucaristia e ter escutado as leituras que hoje o Senhor nos oferece como dom e graça, ficou a ecoar no meu coração a palavra “esperança”. De algum modo, para mim, no aqui e agora da vida e do tempo, esta palavra é como que a síntese ou a palavra-chave que nos permite dar unidade à Palavra Proclamada.

Somos homens e mulheres que se deixam fascinar por Jesus, o Pregador da Galileia, o Rosto misericordioso do Pai que nos convida a olhar a vida como um tempo de espera vigilante e confiante porque Ele é o Senhor do Tempo e da História, porque a Sua vida rasga para nós horizontes de esperança e nos oferece um horizonte de realização e felicidade que só Ele nos pode oferecer.

O cristão vive nesta atitude de espera permanente, na atitude de quem sabe que o Senhor veio, vem e virá. Queremos estar vigilantes para acolher Aquele que é a Sabedoria do Pai de que nos fala a primeira leitura Sabedoria que «se deixa ver facilmente àqueles que a amam e faz-se encontrar aos que a procuram». Jesus, a Sabedoria do Pai, é a Ressurreição e a vida, como nos recorda S. Paulo na primeira carta que escreve aos Tessalonicenses. O Ressuscitado vivo e glorioso, actuante e presente na história e na vida da humanidade é o horizonte de esperança mesmo diante do limite maior da nossa existência, de tal modo que a morte se torna porta para a vida, o rebentar das águas para uma vida em plenitude.

É este Jesus que nós queremos esperar vigilantes, com lâmpadas acesas e com as almotolias cheias de azeite. Queremos ser homens e mulheres que vivem com o coração disponível para acolher a luz que brota do coração de Deus. Esta arte de viver a esperança, esta arte de viver em atitude de vigilância tem como segredo deixar-se fascinar, moldar e transformar por Aquele que esperamos em cada dia e que não vem atrasado, mas que no amor nos antecipa e, por isso, nos amou primeiro para que, com Ele e como Ele, aprendamos a amar aqueles que se encontram connosco na estrada da vida.

«Senhor, senhor, abre-nos a porta!», assim gritam aquelas virgens que não estavam preparadas e que tendo ido comprar azeite voltaram quando a porta estava já fechada. Ouve-se lá de dentro a resposta: ‘em verdade vos digo: Não vos conheço’. Para mim, sempre me pareceu muito duro este diálogo. Como pode, Aquele Jesus de Nazaré que afirmou em alta voz ser a ‘Porta das Ovelhas’, ‘caminho, verdade e vida’, ‘Pastor que vai ao encontro da ovelha perdida’ ser este esposo que apenas responde: «não vos conheço». Onde está o misericordioso Mestre da Galileia que vive de porta aberta para a todos acolher e que como Bom Pastor conhece cada ovelha pelo nome? É o mesmo Jesus? Sim, é o mesmo Jesus: manso e humilde de coração, que propõe a radicalidade de vida e que nos provoca e desinstala para olharmos a vida com o realismo que ela traz consigo, mas simultaneamente com a esperança que brota da Sua vida nova e ressuscitada. Jesus desafia-nos a entrar dentro do nosso coração, a mergulhar no mais íntimo de nós. Reflectindo nestas palavras, o

Papa Francisco hoje na meditação do Angelus propunha uma reflexão pessoal e decisiva: «um dia será o último. E se fosse hoje, como estaria preparado?».

Esta pergunta é para mim e para ti, mas importa responder a esta pergunta com um coração cheio de confiança e esperança, de quem se sabe frágil, pequeno e pecador e, por isso, totalmente entregue nas mãos de Deus, nas mãos Daquele que nos chama da morte à vida, da mentira à verdade, do desespero à esperança. A nossa confiança e esperança não são uma mera alienação ou uma projecção dos nossos sonhos ou desejos mais íntimos, mas têm a consistência de um Rosto, o Rosto misericordioso de Cristo, que nos sustenta no Seu amor e que enche as nossas lâmpadas tantas vezes apagadas e adormecidas. Por isso, queremos cantar e proclamar que só em Jesus encontramos a força para percorrer com esperança o caminho certo: «A minha alma tem sede de Vós, meu Deus».

Padre Sérgio Leal​

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