UM CIDADÃO PREOCUPADO – 22-01-2018

Treinar futebol de formação não é a mesma coisa que treinar equipas sénior. A luta não é para ganhar campeonatos, taças ou provas internacionais, mas sim como diz o nome, formar, ensinar, moldar futuros jogadores e acima de tudo futuros homens. Não é uma tarefa fácil, lida-se com crianças e jovens, cada um com as suas características e personalidade distinta, é preciso saber encontrar o ponto certo entre o dar demasiada liberdade e o ser rígido demais, saber interagir com cada um destes jovens de uma forma individual e não como um todo, saber qual elogiar, qual criticar, qual acalmar, de qual exigir mais, saber falar e lidar com cada um deles. No futebol de formação é onde deveriam estar os treinadores mais competentes, porque é pelos alicerces que se começa a construir uma casa, não é pelo telhado.

Os iniciados de futsal do CD Arrifanense vivem um cenário muito particular. Este escalão não existia no clube, e juntar uma equipa foi um desafio. O leque de jogadores que formaram esta equipa apresenta lacunas profundas a nível de experiência e de formação na área do futsal, a maioria deles nunca tinha sequer praticado a modalidade. Não quero com isto dizer que não houvesse matéria para trabalhar. Mas é importante reconhecer que no escalão de iniciados seria de esperar encontrar jogadores com cerca de 6 anos de formação. Não sendo o caso, o trabalho que deveria ser feito com estes jovens era o de um escalão de base e não o trabalho correspondente ao escalão de iniciados. Não é vergonha reconhecer que falta bagagem, formação a estes jovens e que é preciso dar alguns passos atrás para no futuro se poder avançar.

É possível mesmo assim encontrar neste leque de jovens, talento e algumas características muito específicas para a construção de bons jogadores e de uma boa equipa. Existe muita vontade em todos eles, existe um jovem que não tem medo de ter a bola e tentar carregar a equipa para a frente, existe um que tem um remate muito acima da média que se encontra na liga, tendo já marcado alguns golos dignos de aplauso de pé, existem dois jovens com uma considerável noção do que é defender, fechar atrás e praticar futebol apoiado, e existe um bom guarda-redes que é o que falta mesmo em algumas equipas de topo na liga, isto só para citar alguns exemplos. Claro que um atributo por jogador é muito pouco, falta muito a acompanhar, a completar cada jogador, e falta sobretudo ensinar-lhes que são uma equipa. Há muito trabalho a fazer, mas como disse existe alguma matéria para trabalhar, podia ser pior, muito pior.

O que é preocupante nesta fase do campeonato, muito mais que os resultados apresentados é a falta de trabalho realizado. A época caminha a passos largos para o encerramento e estes jovens não foram trabalhados, não recuperaram tempo de atraso na sua formação, não apresentam nenhuma melhoria significativa em relação ao ponto em que estavam no início do campeonato. Estes jovens mereciam mais, dos treinadores, da direcção, em suma, do clube. Porque é fundamental não esquecer que eles vestiram a camisola quando mais ninguém a queria. E apesar de todas as dificuldades, não desistiram, não deixaram de aparecer nem de lutar, mesmo quando muitos não lutariam.

As probabilidades contra eles foram gigantescas esta época. Eles até podiam terminar o campeonato no último lugar, o que não podia acontecer era terminar o campeonato sem eles terem sido trabalhados, sem terem evoluído. Essa era a recompensa que eles mereciam e o trabalho que devia ter sido realizado.

Se o clube acredita no valor da formação, deve ponderar seriamente nestes pontos. Porque se não, o que acontece é uma enorme perda de tempo de todas as partes envolvidas e que pesará esmagadoramente sobre estes jovens que perdem ainda mais um ano na sua já atrasada formação.

Por Mário Pereira

Em Jornal Correio da Feira

UM CIDADÃO PREOCUPADO – 08-01-2018

Noutros países afectados pelos incêndios, como a Espanha, num par de meses as pessoas já tinham novas casas e o dinheiro das indemnizações no bolso. Cá em Portugal as casas ainda estão no papel e dinheiro nem vê-lo. Mas o Presidente da República esteve no Jantar de Natal em Pedrógão Grande, tudo está bem, não há poeira no ar.

A senhora da Raríssimas continua à espera de um pedido de desculpa pois sentiu-se forçada a abandonar o seu tacho, logo na altura do Natal. Onde estava o espírito natalício das pessoas que tão abusivamente a desmascararam nesta época festiva?!

Por falar em Natal, já dizia o ditado “mudam-se os tempos….”, e os tempos têm mudado de verdade. Eu sou do tempo em que no Natal haviam as chamadas chicotadas psicológicas no futebol, estávamos sempre à espera de ver qual era o treinador ou treinadores que não “comiam as batatas” no clube. Actualmente as chicotadas psicológicas são na política. Esta tornou-se a época de fazer a contagem e ver quantos políticos perderam o tacho e já não “comem as batatas” e tudo o resto a que a ceia natalícia dá direito no seu abastado poleiro.

O ano de 2017 encerrou e como sempre esperamos que o ano que inicia seja melhor que o anterior. Mas antes de terminar, 2017 deixou-me pensativo. Não sei se é um fenómeno recente ou se já por cá andava e eu é que não me tinha apercebido, mas não pude evitar reparar numa série de ataques que o Natal e as pessoas que o celebram sofreram sobretudo nas redes sociais. Escravos do consumismo sustentado pelo Natal?! Marionetas que são levadas a gastar o seu escasso salário nesta época festiva em que tudo manipula para que se consuma, se gaste?! Mas é isto o Natal? Alguém aponta uma arma a outrem e obriga a comprar, a gastar?

Fiquei com a sensação que existe quem ache que o livre arbítrio morreu. Que as pessoas não são capazes de decidir o que é melhor e se deixam levar por encantadores de serpentes.

O Natal não é um símbolo do consumismo, o Natal também não é um símbolo religioso.

O Natal transcende a religião, a nação, a raça e até mesmo a profundidade do bolso.

O Natal para mim é reunir a família, para comer, beber e conviver. Sim podemos juntar a família em qualquer altura do ano não precisa de ser o Natal, mas para mim o Natal sempre esteve ligado a estar com a família, não a gastar dinheiro e nem sequer a motivos religiosos. Para mim esse é o dia em que Jesus nasceu, podem vir os que dizem que foi em Janeiro, que foi em Abril, não interessa. Mas eu não aguardo o Natal de cada ano por esse motivo. Se fosse, estaria presente na missa que é celebrada nesse dia e não o faço. No dia de Natal estou com a minha família, e sim nesse dia gosto de dar presentes, sobretudo às crianças. Gasto o que posso, não fico sem salário, nem sem subsidio, nem me endivido para comprar prendas, mas gosto de ver o sorriso no rosto dos meus filhos quando abrem os seus presentes.

Para mim o Natal é isto, é vestir o fato vermelho e manter a fantasia de uma criança, é estar rodeado de quem amo, é comer e beber e sim são também os presentes. O Natal é para todos e todos o podem celebrar.

Para terminar falando em presentes, todos nós portugueses fomos brindados com uma bela prenda envenenada. O salário mínimo aumenta para 580 Euros, mas aumentam também os transportes, o pão, a electricidade, o gás, os automóveis, as portagens, o leite, o tabaco, os refrigerantes, as telecomunicações, as rendas das casas, os combustíveis…

Existem pessoas que continuam a brincar aos políticos e nós, o povo, continuamos a ser o seu brinquedo favorito. Isto tem que parar!

Por Mário Pereira

Em Jornal Correio da Feira

EDUCAÇÃO V2.0

O peso excessivo que os alunos transportam nas suas mochilas escolares não é um tema actual, é uma questão que vem sendo levantada já há vários anos, o que leva a outra questão…Porque ainda não foi este problema resolvido?

A Organização Mundial de Saúde indica que o peso das mochilas escolares não deve ultrapassar 10% a 15% do peso total corporal do aluno. Mas a realidade actual coloca o peso das mochilas escolares em valores que oscilam entre os 20% a 34%. Este cenário levanta sérias preocupações a nível de saúde para estes alunos, desde dores nas costas a alterações na marcha e a uma postura deficiente.

É óbvio que este é um problema que tem que ser resolvido. Mas as soluções apresentadas que vão desde a divisão dos manuais escolares em fascículos, o aumento das horas dedicadas ao Apoio ao Estudo que permite minimizar a carga de trabalhos de casa, acções de sensibilização para a correcta organização do material escolar dentro da mochila e um correcto ajustamento das alças e a atribuição de cacifos aos alunos, têm ficado bastante aquém do esperado.

Acredito que o caminho a seguir seja o da modernização. A educação continua ano após ano a voltar as costas às novas tecnologias, como se a sua introdução plena na educação fosse uma espécie de tabu. Esta mentalidade excessivamente conservadora está completamente desenquadrada com o panorama actual.

Imaginem um mundo onde a única coisa que um aluno tem que levar para a escola é o seu portátil, tablet ou hibrido, que contém todos os manuais escolares e livros de exercícios e que pode utilizar na vez da “carrada” de cadernos. Esta plataforma permite um leque de opções de integração quer a nível do edifício escolar quer em casa. Acabando de vez com a complicação logística dos trabalhos de grupo, com a carga extra provocada pelos trabalhos de casa a nível do material escolar que têm de deslocar da escola para casa e vice-versa. Permitindo uma proximidade até agora ainda não alcançada entre o professor e o aluno quer na hora da sua aula quer fora da mesma. Um professor com um Smartphone como o Quantum V com projector laser HD que permite a projecção de imagens até 80 polegadas em qualquer superfície plana não teria necessidade de requisitar equipamento antecipadamente ou ter que mudar a turma de sala para poder usar esse mesmo equipamento. Existe uma pletora de opções e cenários não explorados ao nosso alcance.

Segundo os dados apresentados no Global Summit 2017, o futuro da educação passa pela aplicação do conceito Learn by Doing, aprender fazendo. A escola de hoje tem de se adaptar e incentivar uma nova cultura em que o domínio da tecnologia permite preparar os alunos de uma forma mais completa para os desafios da sua vida futura. Um estudo realizado em 2016 entre 132 mil alunos adolescentes e jovens conclui que somente 1 em cada 10 alunos está satisfeito com a aula e o material pedagógico utilizado. Devemos ter presente também que cerca de 65% das crianças que entram hoje para a escola primária terão empregos novos que ainda nem sequer existem, de acordo com o World Economic Forum 2016.

É claro que para implementar este tipo de medidas é necessário um investimento, mas também é verdade que o orçamento de estado prevê uma verba a disponibilizar para a educação. Verba essa que deveria ser utilizada para apoio aos alunos e para equipar e modernizar as escolas. O problema é que a parcela maior dessa verba vai para um único lugar…o salário dos professores. Professores esses que mesmo assim não estão satisfeitos com o salário que auferem nem com as regalias de que usufruem e continuam a insistir no caminho das greves para revindicarem tudo e mais alguma coisa a que acham que têm direito e caso se esqueçam de algo este ano, existe sempre o próximo ano para mais umas greves.

A realidade é que cada vez trabalham menos horas, cada vez faltam mais e fazem mais greves e cada vez mais temos casos de anos lectivos que se iniciam sem terem os professores todos colocados. Mais uma vez são os alunos que ficam prejudicados, pois se cada vez têm mais disciplinas, se as matérias são cada vez mais avançadas e o tempo útil de aula é cada vez menor…algo não está a funcionar bem.

Professores, vejam com bons olhos as novas tecnologias, elas trarão um futuro em que mesmo tendo que faltar podem orientar os alunos na sala de aulas. Um dia estarão à porta da Assembleia da República em manifestação mas poderão continuar a acompanhar o que os alunos estão a fazer na escola ou até mesmo em casa visto ser dia de greve.

Pensem nisso, o futuro está ai. Não vivemos mais no tempo dos dinossauros, os professores alegam que a sua profissão é uma de excelência, está na hora de se começar a ver isso para além das suas palavras.

Mário Pereira

Dia de Greve! – 15-11-2017

A greve dos professores de hoje teve cerca de 90% de adesão, um número histórico. Ainda há esperança, cerca de 10% dos professores optaram por fazer o seu trabalho, nem tudo está perdido.

Os professores reuniram-se em frente à Assembleia da Republica para defenderem os seus direitos. Se por um lado eu até consigo entender parte da justificação para esta manifestação, por outro lado isto levanta uma série de pontos que merecem ser analisados. O primeiro e imperativo destes pontos é: E os alunos?

Quando uma pessoa escolhe seguir a carreira de professor fá-lo por crença na profissão, pelo gosto de ensinar, pela dedicação aos alunos ou fá-lo pelos benefícios financeiros que isso trará à sua carteira? Esperem! Não respondam…deixem-me manter a fantasia por mais uns momentos.

Porque se a resposta for a primeira opção então hoje 90% dos professores esqueceram-se disso e deixaram de fazer aquilo que diz na descrição da profissão deixando os alunos a deambular pelos recreios das escolas. Isto nas escolas de 2º e 3º ciclo, porque nas de 1º ciclo os pais tiveram de arranjar forma de ir lá buscar os filhos pois estas escolas não podiam ficar com os alunos. No 2º e 3º ciclo os alunos eram obrigados a permanecer na escola e hora a hora deslocarem-se às salas para verificar se o professor tinha aderido à greve ou não. Resumindo, um pesadelo de logística para os pais e a preocupação acrescida pela situação dos filhos neste dia.

Ao contrário do que vi noticiado, as aulas este ano lectivo não arrancaram com todos os professores colocados, tenho conhecimento de casos em que a meio do primeiro período ainda não havia professor para a disciplina de História e Geografia de Portugal. Se juntarmos a estas situações as baixas de alguns professores, a falta ocasional de outros, as greves de professores e as greves de auxiliares de educação que sim também levam a que não haja aulas, ficamos com um cenário em que temos que nos perguntar…Como podem os alunos ter aproveitamento escolar? Já ouviram isto não é? Mas geralmente ouvem num género de reparo/reclamação dito pelos professores, como se os alunos em questão se tratassem de casos perdidos pelos quais não se pode fazer nada.

A realidade em que vivemos é esta, um aluno inteligente vai ser bom aluno enquanto a sua inteligência por si só o levar para a frente, um aluno dedicado, vai desenvolver um método de estudo baseado no trabalho e na persistência. Ambos os casos podem ter sucesso. O cenário ideal seria juntar as duas qualidades num aluno só, em casos raros isso acontece. Mas o que vi acontecer em vários casos no meu tempo foi que os alunos dedicados, trabalhadores, acabam por superar os que por natureza até são mais inteligentes. Estes alunos são casos de sucesso, eu admiro alguns amigos meus pelo que os vi conquistar enquanto alunos. Mas o sucesso deles vem da sua personalidade dedicada, trabalhadora e persistente. Também vi vários casos de alunos inteligentes que nunca deram nada de mais na sua vida escolar, casos de potencial desperdiçado. Potencial desperdiçado, este devia ser o ponto da vergonha para os professores, ter um aluno inteligente e não conseguir torna-lo num caso de sucesso, não conseguir tirar dele o tal aproveitamento escolar. Os professores queixam-se cada vez mais da falta de qualidade dos alunos, que não é possível fazer omeletes sem ovos, que já é um desafio tremendo conseguir mante-los controlados para poder levar a aula até ao fim. Então e quando aparecem estes alunos com potencial e também não conseguem tirar deles aproveitamento?

Com tantas faltas e ausências da escola é difícil tirar aproveitamento seja de que tipo de aluno for. Mas parece-me que neste momento os professores talvez se devessem preocupar mais com a qualidade do trabalho que desenvolvem do que com a questão financeira das suas profissões. Existem profissionais a ganhar muito menos e não têm o “privilégio” de ponderar uma greve. A situação comum é mais do género, não estás bem com o emprego que tens…procura outro, a porta é ali. Mas os funcionários públicos continuam a ser uma classe à parte.

Eu já sei que ninguém trabalha de graça, mas também não é o que está em questão aqui, ninguém quer que os professores trabalhem de graça. Eu acho que exercem uma profissão que merece ser bem remunerada…quando trabalham para o merecer. Um professor tem nas mãos o futuro, o futuro de cada aluno, o futuro de cada profissão, o futuro de cada país. O professor é o artista, o mentor, que molda o futuro, que ajuda a construir futuros individuais e pilares para o futuro colectivo da nação. E este trabalho só será bem feito quando conseguirem tirar aproveitamento máximo dos alunos que lhes forem parar às mãos, sejam pedras ou diamantes, porque um bom artista também transforma uma pedra num monumento. E para termos esse aproveitamento máximo da parte dos alunos é preciso dedicação máxima da parte dos professores à carreira que escolheram seguir, á profissão, à verdadeira e correcta definição da profissão quero dizer.

Porque greves, por muito que eu tente entender os motivos…vão haver sempre motivos, justificações, desculpas…agora é pelas carreiras congeladas. Mas já os professores faziam greves antes disso…e temo que vão continuar a faze-las depois de conseguirem os seus objectivos nesta questão, por um qualquer outro motivo. E isto falando daqueles professores que realmente se deslocaram à Assembleia da Republica para participar da manifestação, por que daqueles que só foram à boleia para tirarem o dia (sem vencimento, ressalve-se) nem vou comentar.

Sou pai, gostava que os professores se lembrassem da parte em que têm uma profissão que gostam e se dedicassem a ela para eu poder vê-los tirar o aproveitamento máximo dos meus filhos e não o aproveitamento que for dando.

Que me perdoem por este texto os 10% que não aderiram à greve e alguns professores por quem tenho muita admiração e respeito, mas estes são a excepção e não a regra infelizmente.

Mário Pereira

Cantinas Escolares – 13-11-2017

Nos últimos 3 anos a ASAE fiscalizou cerca de 800 escolas e instaurou 228 processos de contra-ordenação e 20 processos crime. Este ano lectivo têm sido expostos, mais do que nunca casos graves de falhas na alimentação escolar.

A nível local, no concelho de Santa Maria da Feira, este ano lectivo já existiram queixas de má qualidade da comida nas escolas EB Nº.1 e Nº.2 de Santa Maria da Feira e na Escola Básica e Secundária Coelho e Castro de Fiães.

A monitorização das cantinas por parte dos pais é articulada pelas Associações de Pais e não são permitidas visitas de surpresa, sendo as visitas agendadas tem de ser colocada em causa a eficácia destas monitorizações. Perante a torrente de reclamações colocadas por alunos e encarregados de educação as respostas da vereadora da educação Cristina Tenreiro têm sido muito escassas e superficiais, deixando a desejar no seu compromisso para com a defesa dos melhores interesses dos alunos das escolas do concelho.

Interesses que com certeza estão a ser defendidos são os de quem lucra com os contractos realizados entre as escolas e as empresas privadas que asseguram o comer para as cantinas.

Longe vão os tempos em que as escolas podiam argumentar com credibilidade que as refeições escolares em muitos casos eram a única refeição decente que os alunos comiam em 24horas. Longe vão também os tempos em que fazia sentido a escola fechar quando as cozinheiras da cantina faziam greve, pois actualmente não se entende esta justificação visto que as refeições não são preparadas na escola e colocar a comida num prato até a senhora da limpeza o pode fazer, não é preciso nenhum curso universitário para essa ciência. A única justificação que faz algum sentido é que é bom ir à boleia dessa justificação desenquadrada com o panorama actual para se fechar a escola e tirar o dia para lazer.

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares afirmou recentemente numa entrevista à TSF que as refeições escolares deviam ser confeccionadas nas escolas, que têm cantinas e cozinhas para o fazer. Eu concordo com ele pois até à data ainda não se ouviu qualquer queixa vinda de escolas que funcionam neste sistema. Manuel Pereira afirma ainda e com razão que confeccionar as refeições nas escolas dá muito trabalho mas garante uma qualidade que as empresas privadas não têm conseguido apresentar. Eu creio que o problema está essencialmente na parte do trabalho, hoje em dia poucos o querem. E isso abre portas para uma exploração sem precedentes do lado financeiro da questão.

A defesa destas empresas privadas tem sido que não é possível apresentar a qualidade pretendida com os preços praticados, ou seja querem mais dinheiro. Mas as escolas onde as refeições são confeccionadas nas suas cozinhas por cozinheiras da escola conseguem em vários casos até apresentar valores cerca de 20 cêntimos abaixo dos valores estipulados pelo Ministério da Educação.

Parece-me que ao invés de se instaurar processos disciplinares aos alunos que se têm queixado de forma pública sobre esta vergonha que se tem passado nas cantinas escolares, alguém devia pensar seriamente em começar a fazer o trabalho que lhes compete e começar a defender o interesse dos alunos, do futuro que eles representam e não os interesses financeiros de quem gere e das empresas privadas beneficiadas por esta falta de rigor e de critério com que temos vivido.

Já chega! Já chega de quem pode e manda só pensar em encher os bolsos, já chega de tudo ser medido pelo lado monetário, já chega de cada vez tentarem explorar mais as famílias que já travam uma luta constante para se conseguirem manter à superfície e sobreviver num cenário que parece favorecer exclusivamente quem já tem muito e quem só pensa em ganhar mais.

Estamos a falar das escolas, do ensino, da educação! Estamos a falar das nossas crianças e do futuro que elas representam! Senhores dirigentes das escolas, vereadores da Educação, presidentes de Câmara Municipal, Ministério da Educação, Primeiro Ministro, Presidente da República…Hello!!! Temos um salário mínimo miserável mas contribuímos como nos é exigido. Dirigimo-nos às urnas e depositamos a nossa confiança em vós. Demoramos bastante tempo até começarmos a ver as coisas…Mas não exagerem ao ponto de se tornar ridículo como está a acontecer. Mostrem um pouco de dignidade e orgulho nos cargos que representam e façam o que vos compete.

Por uma vez nas vossas carreiras tomem decisões onde considerem o futuro, onde considerem o povo, onde considerem o lado humano da coisa. Vocês têm mais dinheiro que nós, mas nós temos que viver com as consequências do que vocês decidem não pelo vosso dinheiro, mas porque nas eleições escolhemos acreditar na vossa competência e não na profundidade da vossa carteira!

Mário Pereira