MOMENTO DE REFLEXÃO – 18-02-2018

DOMINGO I DA QUARESMA – ANO B

«Cumpriu-se o Tempo!»

Depois de termos celebrado na Quarta-feira, o início deste santo tempo da Quaresma, somos convidados a percorrer com alegria este tempo que nos há-de conduzir à Páscoa do Senhor. Este tempo que somos chamados a percorrer não é um tempo sombrio ou tenebroso, triste ou pesado, mas o tempo alegre e cheio da esperança que inunda o coração daquele que encontra na conversão e no arrependimento um programa de vida. Por isso, recordo uma vez mais as palavras do Ir. Roger, fundador da comunidade de Taizé, que em cada ano recordava aos seus irmãos que a Quaresma era «o tempo de cantar a alegria do perdão». Que esta Quaresma de 2018 seja verdadeiro lugar de conversão e arrependimento, um tempo favorável para cantarmos juntos a alegria do perdão.

Jesus veio trazer uma mensagem de alegria e de esperança. Jesus veio inaugurar um tempo novo marcado pelo amor e pela misericórdia. Contudo, a Sua mensagem não é uma imposição, a Sua mensagem não é uma obrigação é uma proposta de amor que requer a nossa liberdade e, por isso, somos desafiados a acolher livremente a mensagem de amor que Jesus nos dirige. Deste modo, a Quaresma lança-nos o desafio de abrir a porta do nosso coração à mensagem de alegria que brota do Evangelho.

O Evangelho de hoje situa Jesus num lugar diferente do habitual: não está com as multidões, não está no Templo ou na sinagoga: Jesus está no Deserto. Mais, Jesus foi impelido «pelo Espírito Santo» ao deserto. Jesus não foi apenas por Sua livre iniciativa: é o Espírito Santo que conduz Jesus e Jesus deixa-se conduzir por este Espírito de amor.

O deserto é uma imagem muito forte biblicamente. O deserto é, em primeiro lugar, pela sua própria natureza, um lugar isolado longe do rebuliço e da confusão e, por isso, muitas vezes na Bíblia este lugar teológico surge como lugar de encontro com Deus, lugar onde experimentamos o sossego e a paz necessárias para escutar a voz de Deus.

Contudo, o deserto é também lugar onde o Povo de Israel a caminho da Terra Prometida tantas vezes experimentou a infidelidade e onde tantas vezes se afastou de Deus. O deserto é também lugar de tentação, de experimentar a fragilidade e a debilidade pois é um lugar exigente, difícil e tantas vezes árduo.

Jesus também foi conduzido ao deserto. Jesus que assumiu a nossa natureza humana, assume-a na sua totalidade e vem ao encontro da nossa fragilidade, percorre como nós os caminhos tantas vezes árduos e argilosos da tentação e foi tentado no deserto, isto é, sentiu as dificuldades, os obstáculos e os desafios que são próprios do caminho.

Mas como o deserto é lugar de passagem e provisório, Jesus não se detém aí e vai para a Galileia e anuncia o Reino de Deus. Assim, escutamos as primeiras palavras de Jesus no Evangelho de S. Marcos: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Jesus diz-nos que não há tempo a perder, é urgente abrir o coração ao Evangelho, é

urgente fazer das nossas vidas lugares alegres e felizes de conversão. O arrependimento e a conversão são a atitude permanente de todo aquele que quer seguir o caminho de Jesus, pois a transformação da nossa vida é fonte de alegria e felicidade. Por isso, cada um de nós há-de perguntar-se: o que quero transformar na minha vida? Na resposta a esta pergunta haveremos de encontrar o programa de conversão que cada um é chamado a realizar.

Padre Sérgio Leal

MOMENTO DE REFLEXÃO – 04-02-2018

DOMINGO V DO TEMPO COMUM – ANO B

Vamos transformar o Mundo!

O Evangelho sublinha esta certeza: Jesus é o Enviado do Pai. Jesus vem ao nosso encontro, percorre as ruas das vilas e aldeias da Sua terra e de tantas formas e modos anuncia ao mundo o amor que invade o Seu coração, o desejo de a todos salvar e a todos fazer chegar a Boa Nova da Salvação.

O Evangelho de hoje coloca-nos a acompanhar Jesus durante uma jornada. Qual reality show que acompanha minuto a minuto o dia-a-dia dos seus concorrentes… Jesus sai da sinagoga, vai à casa de Simão e André. Ao final do dia, trazem-lhe todos os doentes e possessos que precisam de cura. Jesus dispõe do Seu tempo para com todos e com todos usa de ternura e misericórdia. De manhã muito cedo, retira-se para um lugar isolado para rezar mas todos continuam a procurá-lo. Por isso, Ele não se deixa deter e parte, impelindo os discípulos a irem com Ele: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim».

Jesus não desperdiça o Seu tempo. Se tem uma missão que o Pai lhe confiou, Jesus leva a cabo essa missão e aproveita cada momento do Seu dia para levar a cabo a sua missão. Por isso, em primeiro lugar, a Liturgia da Palavra de hoje, ao relatar-nos o dia-a-dia de Jesus, recorda-nos que o Tempo é dom de Deus, dom da Sua infinita misericórdia e, por isso, é necessário aproveitar bem e gastar bem esse tempo que o Senhor nos oferece como dom e graça. É certo que são muitas as coisas que temos a fazer e são tantas as distracções que nos invadem em cada dia, por isso, é urgente estar atento e ser bons administradores do nosso tempo. Assim fez Jesus, que sabendo da missão que o Pai lhe confiava, aproveitava bem o tempo, para que cada minuto, cada hora da Sua vida, fosse um tempo de entrega generosa, lugar de Serviço por Amor e anúncio da Boa Nova da Paz e do Perdão.

Olhando de perto para a vida de Jesus, reparamos que o Seu dia era composto por momentos muito diversos: vai à sinagoga, visita a casa dos amigos, vai ao encontro dos que têm necessidades, entra em oração íntima com o Pai, parte ao encontro de todos. Deste modo, Jesus ensina-nos que a variedade de lugares por onde a nossa vida decorre não é necessária e inevitavelmente lugar de dispersão, mas que necessita de ser unida e unificada pela certeza de que a nossa vida está imersa no grande plano e projecto do amor de Deus e que a certeza de que trilhamos o caminho que Deus sonhou para nós, unifica a nossa vida e nos ajuda a percorrer com mais coerência e verdade os trilhos deste mundo.

Mas quero mesmo sublinhar alguns aspectos deste dia-a-dia de Jesus e que fazem parte do perfil, da identidade daquele que se sabem nas mãos de Deus e acompanhados pela certeza da Sua graça.

Jesus vive em união íntima com o Pai: entrava em oração pessoal com Ele e com toda a certeza a oração fazia essa unificação da vida. Mas não se ficava pela oração íntima e pessoal. Fazia essa

oração também juntamente com os outros e, por isso, vemo-lo na sinagoga, no lugar da oração comunitária. Assim, deverá ser a vida daqueles que querem seguir Jesus: a oração íntima e pessoal com Deus, sempre articulada com a oração comunitária lugar da comunhão com Deus e os irmãos.

Jesus não esquece os laços familiares e de amizade e com os seus discípulos André e Simão, visitam a sua casa de família e aí opera o milagre da cura da sogra de Pedro. Mas não nos podemos ficar no conforto da nossa casa, permanecendo indiferentes ao que se passa no mundo à nossa volta e com tantos homens e mulheres que passam necessidades. Por isso, Jesus acolhe aqueles que vivem a doença ou a fragilidade, que sofrem no corpo ou no espírito e a todos dirige uma palavra de consolação e esperança, oferecendo o seu amor que cura e salva.

Contudo, não se fica por aqueles que o procuram, sente necessidade de partir ao encontro dos que estão mais longe e aqui compromete-nos a todos, porque o convite que Ele dirigiu aos seus discípulos dirige hoje a cada um de nós: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». VAMOS: temos todos de partir com Jesus. Todo aquele que acolhe Jesus na sua vida não fica indiferente aos irmãos e a todos aqueles que estão à sua volta.

Foi este amor que apaixonou o coração de Paulo e, por isso, também ele não consegue ficar indiferente: «Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho!». Hoje este desafio é para todos nós. Anunciar o Evangelho, fazer dele a fonte de sentido para as nossas vidas, levar este amor aos nossos irmãos. Se abraçamos com verdade este desafio seremos felizes e a humanidade será esse lugar que Deus sonhou para nós.

Padre Sérgio Leal

MOMENTO DE REFLEXÃO – 28-01-2018

DOMINGO IV DO TEMPO COMUM – ANO B

Construtores de um Mundo Novo

«Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações!». Este é o desafio de hoje da Liturgia da Palavra: acolher a Palavra de Jesus, gerando no nosso coração uma atitude de acolhimento, uma atitude de escuta atenta. Se queremos seguir Jesus, fazendo das nossas vidas imagem do Seu exemplo de amor, temos necessariamente de em cada dia escutarmos a Sua voz, como palavra que orienta os nossos passos, luz que ilumina o nosso caminho, fonte de realização e felicidade.

Mas como escutar a voz de Deus, no meio de tantas vozes que nos falam e que nos interpelam em cada dia? Esse é o grande desafio. Jesus é o Enviado do Pai, a Palavra encarnada de Deus, o Verbo feito carne para nossa salvação. Por isso, Jesus não é apenas mais um que nos vem falar de Deus. Ele é o próprio Deus no meio de nós. Ele é o sinal do Seu infinito amor. Ele é a revelação suprema do amor de Deus, por isso, a Sua doutrina e pregação se revestem de uma novidade e autoridade que interpela os seus contemporâneos. Como nos dizia o livro do Deuteronómio: «Porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhes ordenar». Evidentemente que Moisés falava de Josué que lhe iria suceder imediatamente, mas anunciando que Deus escolhe homens concretos para levar aos seus irmãos a Palavra de Deus, como palavra que interpela, que aponta o caminho da salvação.

Foi assim ao longo da história e da revelação bíblica: Deus foi chamando homens que fossem portadores da Sua mensagem e que na resposta afirmativa ao apelo e chamamento de Deus revelassem aos homens e mulheres do Seu tempo a Palavra sempre nova do Seu amor. Pela fidelidade ao chamamento de Deus, pela entrega das suas vidas tornaram-se homens que falavam em nome de Deus e dirigiam ao Povo a mensagem de Deus. Assim, progressivamente Deus se foi revelando ao Povo e ao mundo, manifestando o Seu desígnio de amor e preparando o povo para a revelação plena e definitiva.

Deste modo, como diz a Carta aos Hebreus: «De muitas formas e modos, falou Deus aos nossos pais pelos profetas, mas nestes tempos que são os últimos falou-nos por Seu Filho». Jesus é a Palavra plena e definitiva de Deus. Em Jesus Cristo Deus revelou a plenitude da mensagem, revelando o Seu infinito amor. Deste modo, compreendemos muito bem que aqueles que o escutavam se maravilhavam com a Sua doutrina, mas ficavam com certeza surpreendidos com a novidade que brotava das Suas palavras: «começou a ensinar e todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas».

Porque será que a doutrina de Jesus era lugar de encanto e de surpresa para os seus contemporâneos? Seria Jesus um vendedor de banha da cobra que enganava e ludibriava os seus ouvintes?

Evidentemente que não! A grande novidade de Jesus é que a sua autoridade não era como a dos escribas. Os escribas eram apenas meros repetidores da escritura, da lei e da doutrina. A doutrina de Jesus era nova e inovadora porque ia ao encontro das pessoas, fazia-se vida nos seus gestos e atitudes e, por isso, inaugurava esse Reino Novo do Amor do qual Jesus era portador e realização.

Se hoje queremos ser anunciadores das palavras de Jesus e dos seus gestos de amor e de paz, não nos chega ser meros repetidores das Suas palavras e gestos é necessário ser verdadeiros anunciadores do Seu amor e da Sua Paz a partir da nossa vida, na nossa acção concreta, revestindo-nos de uma autoridade que se torna serviço, entrega, amor, comunhão, paz e partilha. Assim, os nossos gestos serão também anunciadores de uma nova doutrina, formadores de uma nova humanidade, desejada e sonhada por Deus e instaurada por Jesus Cristo e pelo Seu infinito amor.

A Palavra de Jesus é instauradora de uma nova forma de olhar o tempo e a história. Por isso, S. Paulo nos diz: «Não queria que andásseis preocupados». Aquele que descobriu Jesus e a Sua mensagem de amor vive com confiança e esperança. Andar (pre)ocupado é andar ocupado antes e fora de tempo. É olhar o passado com tristeza e o futuro com desconfiança. Em Jesus, o passado faz parte da nossa história e deve ser integrado no todo da nossa vida. O futuro está nas mãos de Deus e deve ser vivido com confiança. O presente é o lugar das grandes opções e decisões, o lugar de fazermos da nossa vida verdadeiro rasto de luz, que marca o tempo e a história com o Serviço por Amor que transforma as nossa vidas e torna o mundo o lugar que Deus sonhou para nós.

Por Padre Sérgio Leal

MOMENTO DE REFLEXÃO 14-01-2018

DOMINGO II DO TEMPO COMUM – ANO B

Ensina-me, Senhor, a dizer Sim!

A Liturgia da Palavra de hoje recorda-nos que em cada dia o Deus do amor vem ao nosso encontro de muitas formas e convida-nos a fazer o percurso da tomada de consciência desse amor que nos convida à verdadeira felicidade, acolhendo o desafio de em cada dia procurar escutar a voz de Deus, fazer a experiência do Seu amor, responder afirmativamente ao Seu convite e partir para levar esse amor aos irmãos. Deus ama-nos, conhece-nos pelo nome e convida-nos a entrar na alegria do Seu amor. Deus na sua infinita misericórdia sonhou o mundo como a Casa do Amor, o lugar onde cada homem e cada mulher se realizem a partir do amor. Para cada homem e cada mulher Deus tem um projecto único de amor e felicidade.

A Liturgia da Palavra de hoje coloca diante de nós diversas histórias vocacionais, com percursos, pessoas e lugares diferentes. Todas elas nascem do amor de Deus que se faz chamamento, que se dirige pessoalmente a cada um deles, que precisa e respeita a liberdade de cada um e que se constitui depois como lugar de compromisso e de testemunho para os outros. Por isso, é este o percurso que quero fazer convosco: escutar a voz de Deus; fazer a experiência do Seu amor; responder afirmativamente e com alegria à sua voz de amor e levar esse amor aos irmãos.

Em primeiro lugar, é necessário escutar a voz de Deus. Mas como escutar a voz de Deus num mundo onde são tantas as vozes que se dirigem até nós em cada dia: a rádio, a televisão, a internet, os professores, os amigos, os pais, os filhos? Tantas vozes e tão diferentes estímulos e chamamentos! Como identificar a voz de Deus no meio de tantas vozes? Onde encontrar a voz de Deus?

O pequeno Samuel que vivia no Templo teve dificuldade em perceber que aquela voz que sentia no seu coração era a voz de Deus que o interpelava e que o chamava. Os primeiros discípulos precisaram da voz de João para lhes indicar o Cordeiro de Deus. Simão precisou de seu irmão André. Isto é, escutar a voz e Deus significa viver atento aos sinais, às pessoas, aos acontecimentos da nossa vida, pois como nos recorda a Carta aos Hebreus são muitos os modos que Deus escolhe para se dirigir a cada um de nós. Por isso, é importante reconhecer que no nosso caminho de descoberta do projecto do amor de Deus contamos com a ajuda de pessoas que são para nós como Heli que ajudou Samuel a descobrir Deus naquela voz que o interpelava, como João Baptista que apontou o Cordeiro de Deus aos seus discípulos ou André que chamou o seu irmão. Não são pessoas que decidem ou escolhem por nós. São pessoas que são ajuda para que a nossa resposta seja mais consciente, clara e mais fiel ao chamamento de Deus.

Por isso, depois de escutarmos a voz de Deus, de a percebermos no rosto e na voz de outras pessoas, depois de a escutarmos em tantas circunstâncias da nossa vida, torna-se necessário fazer a nossa experiência íntima e pessoal de Jesus: «Vinde ver». Ver que é muito mais do que olhar

desconfiadamente, mas ver que significa experimentar, saborear, fazer meu. Ver que significa sentir o imenso amor de Deus para lhe poder responder com alegria e generosidade.

Depois de escutar a voz de Deus, depois de fazer a experiência do encontro íntimo e pessoal com Ele urge responder afirmativa e generosamente ao Seu amor, uma resposta cheia de alegria e entusiasmo à Sua proposta de felicidade. Porém, ainda não chega. Não podemos ficar no cantinho e no quentinho da nossa resposta ao amor de Deus. É necessário partir como André para levar esta alegria aos outros, para fazer outros experimentar a alegria deste chamamento, a alegria de um Deus que nos chama ao Seu amor.

Contudo, este percurso não é apenas uma história sem obstáculos ou dificuldades. Se dissesse que este caminho se faz assim, linearmente e sem quedas estaria a mentir e a proposta não pareceria humana. Este percurso faz-se muitas vezes na dificuldade da escolha radical de Deus, faz-se muitas vezes na dor das decisões que temos de tomar, na dificuldade em escutar a Sua voz, na falta de vontade de fazer a experiência do Seu amor, na tentação de dizer que não, na preguiça de ir ao encontro dos outros. Por isso, em cada dia temos de rezar como rezávamos no Salmo responsorial: «Eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade», rezando com a certeza de quem sabe que a vontade de Deus é que sejamos felizes e façamos dessa felicidade lugar de irradiação no mundo da sua ternura e da sua bondade.

Por Padre Sérgio Leal

MOMENTO DE REFLEXÃO 17-12-2017

DOMINGO III DO ADVENTO – ANO B

Alegrai-vos!

«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus». S. Paulo dá-nos o mote para a celebração eucarística de hoje: o convite à alegria, uma alegria que brota do coração que sem cessar se dirige a Deus, uma alegria que se traduz em verdadeira acção de graças, uma alegria que é verdadeira pois tem a sua fonte no coração de Deus.

Este Domingo, tradicionalmente e liturgicamente designado como Domingo da alegria, constitui-se como convite à alegria. Mas que alegria é esta que Jesus vem anunciar, que João Baptista é portador, que o papa Francisco tanto tem anunciado? O que significa a alegria?

Com toda a certeza, podemos até dizer que no mundo de hoje as razões para a alegria são escassas: a vida não e fácil, vemos muitos irmãos nossos que sofrem, tantas pessoas cuja vida não conhece condições dignas. Como falar de alegria? Como anunciar a alegria a um mundo que tantas vezes vive na tristeza?

Vamos olhar o Evangelho… O Evangelho de hoje coloca de novo diante do nosso olhar a figura de João Baptista, como um enviado de Deus para ser testemunha da Luz. Na verdade, a alegria é a Luz que nos permite olhar o tempo e a história de um modo novo, mesmo as situações mais dramáticas e exigentes.

Tantas vezes há momentos escuros nas nossas vidas. Efectivamente, não há ninguém, que consiga dizer que na sua vida nunca sentiu nenhum momento de tristeza ou angústia, que nunca teve nenhum momento em que se sentiu a caminhar às escuras. Contudo, a dificuldade, os obstáculos, as tristezas não são a nossa vida, nem o mais abundante nas nossas vidas, nem a razão de ser das nossas vidas, mas muitas vezes estão presentes nas nossas vidas.

Por isso, somos chamados a olhar esses momentos de dificuldade com o olhar de Jesus, para vivermos a alegria mesmo nos momentos mais difíceis e exigentes, pois esta alegria não é apenas a alegria de gargalhadas rasgadas ou a alegria tola de quem desconhece ou ignora a realidade. Esta alegria é a certeza de que há um Deus que nos ama em tudo e acima de tudo e, por isso, somos chamados a iluminar as mais variadas situações da nossa vida com a luz que brota do coração de Jesus.

Como João, somos convidados a reconhecer que apenas Jesus é a verdadeira Luz. Dizia o Evangelho: «Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz». João Baptista é figura da alegria humilde, daquele que reconhece que a maior alegria está em reconhecer Deus como Aquele que sendo maior do que nós, em nada nos inferioriza, mas nos engrandece com o Seu amor e a Sua graça. A alegria e a missão de João foi reconhecer Jesus como a Luz do mundo e testemunhara alegria de ser testemunha Daquele que era maior do que Ele.

Por isso, João Baptista desvia todas as atenções de si. «Eu não sou o Messias»; «não sou»; «não»; «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’». João Baptista não quer ser o protagonista principal, pois ele sabe que esse não é o seu papel. João Baptista sabe-se testemunha da luz, aquele que vive a alegria de anunciar quem é maior do que ele e ensina-nos a viver a grande alegria de reconhecer que só Jesus é fonte da Luz e da Alegria. Porém, quando unimos a nossa vida à sua vida, a nossa vida torna-se uma vida mais feliz, porque mais preenchida do Seu amor.

Curiosamente, S. Paulo, após o convite à alegria, faz um convite: «orai sem cessar!». S. Paulo recorda-nos que a verdadeira alegria também se conquista pela oração, pelo encontro íntimo e pessoal com Jesus, Ele que é a única fonte da nossa alegria.

Padre Sérgio Leal

MOMENTO DE REFLEXÃO – 10-12-2017

DOMINGO II DO ADVENTO – ANO B

Preparai os caminhos do Senhor!

A Liturgia da Palavra neste segundo Domingo de Advento coloca o nosso olhar em João Baptista, o percursor do Senhor. João Baptista é figura da necessidade urgente de prepararmos o coração para acolher a Boa nova que nos é anunciada, a Palavra proclamada que reclama de cada um de nós uma concretização muito prática na vida de cada dia.

«Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus». Estamos a iniciar um caminho e, por isso, nada como voltar ao início. Evangelho significa Boa Nova, significa uma Boa notícia. O Evangelho que escutaremos Domingo após Domingo ao longo deste ano litúrgico é a Boa Notícia que Jesus nos quer dirigir, o Seu amor feito Palavra proclamada para que seja verdadeiramente acolhida nosso coração.

Precisamos de boas notícias. Estamos cansados de ver o noticiário, o telejornal e as notícias marcadas por más notícias, por sangue, violência e corrupção. Precisamos de boas e belas notícias que preencham as nossas vidas de sentido. Por isso, o Evangelho, esta Boa notícia que S. Marcos nos comunica é sinal de alegria.

Assim como as más notícias são repetidas vezes sem conta, nos noticiários, também as boas notícias deveriam ser repetidas o dobro das vezes para inundar o mundo da alegria jubilosa que brota do coração de Deus e que nos revela que não obstante as dificuldades deste mundo, Deus caminha connosco e nos aponta o caminho da felicidade.

Se é de Boa notícia que se trata, então é necessário estar de coração aberto e desperto para a acolher, por isso, ressoa no deserto a voz de João Baptista: «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas». Não deixemos que estas palavras sejam apenas um refrão repetido em cada ano em Tempo de Advento mas procuremos escutá-las com a novidade de sempre e com a actualidade que em cada ano se revestem.

Mas olhemos para João Baptista e para o seu apelo à conversão. Ele é a voz que brada no deserto. Mas porque não brada na cidade, no meio das casas onde estaria mais gente? Na verdade, este apelo de João Baptista não pode ser escutado onde há muito ruído, onde há pressa e distracção. João conduz-nos ao deserto, pois na tranquilidade e austeridade do deserto podemos escutar a voz de Deus. No corre-corre da nossa vida, no frenesim quotidiano torna-se difícil escutar a voz de Deus que continua a fazer a ecoar a Sua mensagem de amor.

João Baptista não prega apenas com palavras. A sua vida torna-se exemplo e modelo de todos aqueles que querem acolher a mensagem de Jesus. A sua postura é sinal de que o coração para acolher Jesus tem de estar limpo e despido. Um coração cheio não tem espaço para acolher. João não vive num palácio, não ostenta poder e riquezas, não é dono de nada nem de ninguém, não fala de si mesmo. É um servo cuja alegria é servir Aquele-que-Vem, a sua casa é o deserto, o seu dizer não é vangloriar-se, é dizer Outro. Veste-se rudemente com o que o deserto dá, o seu alimento

frugal recebe-o do deserto, isto é, da mão de Deus. Por isso, este viver na dependência de Deus e do Seu amor, fazendo a experiência da maior liberdade que é fonte da realização e felicidade do coração humano.

João é o homem do deserto e aponta o essencial. Indica Aquele-que-Vem. Cuja vocação é vir e ficar no meio de nós. João é provisório. Lava com água as nossas banalidades e aponta o caminho para Aquele que deve ser o definitivo das nossas vidas. Por isso, esta espera de Deus e esta preparação dos caminhos do Senhor que nos fala João Baptista, não é uma espera meramente passiva, mas uma espera actuante como nos recorda S. Pedro: «nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos!».

Espera alegre, feliz, dinâmica e criativa como quem prepara…

Padre Sérgio Leal

 

MOMENTO DE REFLEXÃO – 03-12-2017

DOMINGO I DO ADVENTO – ANO B

Sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro!

Iniciamos hoje este belo caminho de Adento que nos conduzirá ao Natal do Senhor e nos ensina a viver a arte de amar como lugar de espera atenta e vigilante. Com este tempo de graça, iniciamos também um novo ano litúrgico. Começar um caminho é sempre motivo para dar graças a Deus que nos concede a graça de viver cada dia e cada tempo como uma nova oportunidade de ser mais e melhor. Tempo de Advento é tempo «da espera de Deus, de um Jesus que é Deus caído na terra como um beijo» (B. Calati), de um Deus que em Jesus Cristo vem ao nosso encontro como carícia sobre a terra e sobre o coração.

Por isso, ao iniciar este abençoado tempo, Jesus desafia-nos a viver como sentinelas atentas e vigilantes. Somos frágeis e débeis, mas reconhecemos que o nosso pecado e debilidade não são um caminho sem saída, pois somos barro nas mãos do Divino e Eterno oleiro, que quer contar connosco para a construção do Seu Reino de amor e de paz.

A parábola evangélica, que hoje a Liturgia da Palavra nos propõe, recorda-nos uma vez mais como o nosso Deus se quer confiar em nossas mãos: «será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse». É recorrente no Evangelho esta imagem de um Deus que se assemelha a um patrão que parte de viagem e confia aos seus servos tarefas ou bens. Deus sabe que não obstante as nossas debilidades e fracassos, que somos capazes de obras grandes e belas. Deus vê para lá do nosso pecado e fragilidade e ensina-nos que quando somos capazes de viver a partir do Seu amor, vigiando sobre a nossa vida e sendo capazes de abrir o coração aos outros, podemos realizar obras belas e grandiosas que fazem do mundo um lugar mais belo e da vida de cada homem e de cada mulher um lugar mais feliz.

Devemos viver como homens e mulheres que se sabem despertos pelo amor de Deus, que procuram viver com os olhos e o coração abertos sobre o mundo, lutando contra a indiferença que torna o mundo um lugar mais frio e privado da fraternidade e do amor que dão sentido e felicidade às nossas vidas. Por isso, nos recordava esta manhã o Papa Francisco, exortando-nos à vigilância: «A pessoa atenta é a que, no ruído do mundo, não se deixa dominar pela distracção ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação dirigida sobretudo aos outros: com esta atitude, apercebemo-nos das lágrimas e das necessidades do próximo”».

Deste modo, viveremos a vigilância de que nos fala o Evangelho de hoje, pois reconheceremos no rosto sofredor onde Deus se faz presente, o Deus do Amor que nos visita e que nos desafia a instaurar no mundo uma nova forma de ser e de estar, que se traduz num modo novo de servir e amar.

Um Santo Advento para todos!

Padre Sérgio Leal

Momento de Reflexão – 26-11-2017

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO – ANO A

Viva o Rei!

A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo marca o final do Ano Litúrgico. Estamos no último Domingo do Tempo Comum, deste ano litúrgico. Na próxima semana, já estaremos a celebrar o início do novo ano litúrgico com o sagrado tempo do Advento. Por isso, esta celebração é também lugar para darmos graças ao Senhor por este ano litúrgico que termina e lugar para invocar a bênção de Deus para o novo ano que vamos iniciar. É até tempo para fazermos a avaliação e balanço deste ano que terminou. O tempo é dom de Deus e, por isso, devemos ser bons administradores do tempo que o Senhor nos concede viver. Por isso, é tempo para olhar para o percurso percorrido, olhar a nossa vida e pensar aquilo que este ano queremos fazer melhor.

Esta solenidade que hoje celebramos foi instituída pelo Papa Pio XI, em 11 de Dezembro de 1925, com a Carta Encíclica Quas Primas. Os tempos apresentavam-se sombrios e turvos e os céus nublados como os de hoje, e Pio XI, homem de acção, no rescaldo primeira grande guerra, quer colocar no horizonte dos homens e mulheres do Seu tempo que todos somos filhos muito amados de Deus, que o único que reina sobre nós é Jesus Cristo, Rei do Universo e o Seu Reino é um Reino de Paz e de Amor.

A solenidade de hoje convida-nos a isto mesmo, a reconhecer em Jesus Aquele que reina sobre nós e, por isso, devemos perguntar-nos: quem reina sobre nós? O que preenche de sentido a nossa vida? Qual a palavra que orienta o nosso caminho? São muitos os que querem reinar sobre nós e como homens e mulheres muitas vezes nos deixamos fascinar por falsos reis que com promessas enganadoras nos seduzem mais que este Rei que é Jesus cujo modo de reinar é inaudito e inaugura na história humana uma página absolutamente nova.

Olhar para Jesus como Rei é olhar para Aquele que queremos que reine sobre nós, mas reconhecendo que tal como Jesus disse a Pilatos, o Seu reino não é deste mundo e o Seu modo de reinar sobre nós não é prepotente e autoritário, mas cheio de amor e misericórdia.

A Liturgia da Palavra deste Domingo traça para nós o perfil deste Rei, que invocamos como nosso Pastor. Na primeira leitura, o profeta Ezequiel fala-nos de um Rei que reina sobre nós com desvelo e amor paterno e basta olhar os verbos empregues na primeira leitura onde Ezequiel nos fala do nosso Deus como Aquele que cuida de nós como o pastor cuida das suas ovelhas: «irei em busca»; «vigia»; «guardarei»; «apascentarei»; «levarei a repousar»; «procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada»; «tratarei a que estiver ferida»; «darei vigor»; «velarei».

Como é bom e belo, reconhecer que o nosso Deus reina sobre nós com carinho, amor e bondade. O nosso Rei não é um Rei sentado num trono dourado, com vestes resplandecentes, com uma coroa de pedras preciosas e ouro fino, que tem na mão um ceptro de ouro. O nosso Deus, em Jesus Cristo, reina a partir de um trono que é a Sua Cruz, está despido das Suas vestes, a Sua coroa é de espinhos e na mão tinham-lhe colocado uma cana com a qual lhe bateram.

É novo este Reino que Jesus veio inaugurar. É nova a realidade instaurada por este Deus e Senhor revelado em Jesus Cristo e nós somos participantes deste Reino, convidados a tomar parte dele como escutámos no Evangelho com obras concretas de amor e misericórdia: «Tinha fome, tinha sede, era estrangeiro, estava nu, doente, na prisão: e tu ajudaste-me. Seis passos de um percurso, onde a substância da vida tem como nome “amor”; forma do ser humano, forma de Deus, forma do viver. Seis passos para nos encaminharmos para o Reino, a Terra como Deus a sonha. E para intuir traços novos do rosto de Deus, tão belos que encantam sempre de novo» (Ermes Ronchi).

Embora este reino seja um dom gratuito e entrar nele seja puro dom da imensa bondade de Deus, ele exige de nós um compromisso. Se queremos ser herdeiros deste Reino que não se impõe mas que se oferece a cada um de nós, temos de entrar nesta nova lógica do amor, onde a nossa atenção se volta para aqueles que mais precisam de nós, que se tornam os maiores, por serem os mais pequeninos e aqueles com quem Jesus, o nosso Rei se identifica.

Padre Sérgio Leal

MOMENTO DE REFLEXÃO – 12-11-2017

«Senhor, senhor, abre-nos a porta!»

Depois de ter celebrado a Eucaristia e ter escutado as leituras que hoje o Senhor nos oferece como dom e graça, ficou a ecoar no meu coração a palavra “esperança”. De algum modo, para mim, no aqui e agora da vida e do tempo, esta palavra é como que a síntese ou a palavra-chave que nos permite dar unidade à Palavra Proclamada.

Somos homens e mulheres que se deixam fascinar por Jesus, o Pregador da Galileia, o Rosto misericordioso do Pai que nos convida a olhar a vida como um tempo de espera vigilante e confiante porque Ele é o Senhor do Tempo e da História, porque a Sua vida rasga para nós horizontes de esperança e nos oferece um horizonte de realização e felicidade que só Ele nos pode oferecer.

O cristão vive nesta atitude de espera permanente, na atitude de quem sabe que o Senhor veio, vem e virá. Queremos estar vigilantes para acolher Aquele que é a Sabedoria do Pai de que nos fala a primeira leitura Sabedoria que «se deixa ver facilmente àqueles que a amam e faz-se encontrar aos que a procuram». Jesus, a Sabedoria do Pai, é a Ressurreição e a vida, como nos recorda S. Paulo na primeira carta que escreve aos Tessalonicenses. O Ressuscitado vivo e glorioso, actuante e presente na história e na vida da humanidade é o horizonte de esperança mesmo diante do limite maior da nossa existência, de tal modo que a morte se torna porta para a vida, o rebentar das águas para uma vida em plenitude.

É este Jesus que nós queremos esperar vigilantes, com lâmpadas acesas e com as almotolias cheias de azeite. Queremos ser homens e mulheres que vivem com o coração disponível para acolher a luz que brota do coração de Deus. Esta arte de viver a esperança, esta arte de viver em atitude de vigilância tem como segredo deixar-se fascinar, moldar e transformar por Aquele que esperamos em cada dia e que não vem atrasado, mas que no amor nos antecipa e, por isso, nos amou primeiro para que, com Ele e como Ele, aprendamos a amar aqueles que se encontram connosco na estrada da vida.

«Senhor, senhor, abre-nos a porta!», assim gritam aquelas virgens que não estavam preparadas e que tendo ido comprar azeite voltaram quando a porta estava já fechada. Ouve-se lá de dentro a resposta: ‘em verdade vos digo: Não vos conheço’. Para mim, sempre me pareceu muito duro este diálogo. Como pode, Aquele Jesus de Nazaré que afirmou em alta voz ser a ‘Porta das Ovelhas’, ‘caminho, verdade e vida’, ‘Pastor que vai ao encontro da ovelha perdida’ ser este esposo que apenas responde: «não vos conheço». Onde está o misericordioso Mestre da Galileia que vive de porta aberta para a todos acolher e que como Bom Pastor conhece cada ovelha pelo nome? É o mesmo Jesus? Sim, é o mesmo Jesus: manso e humilde de coração, que propõe a radicalidade de vida e que nos provoca e desinstala para olharmos a vida com o realismo que ela traz consigo, mas simultaneamente com a esperança que brota da Sua vida nova e ressuscitada. Jesus desafia-nos a entrar dentro do nosso coração, a mergulhar no mais íntimo de nós. Reflectindo nestas palavras, o

Papa Francisco hoje na meditação do Angelus propunha uma reflexão pessoal e decisiva: «um dia será o último. E se fosse hoje, como estaria preparado?».

Esta pergunta é para mim e para ti, mas importa responder a esta pergunta com um coração cheio de confiança e esperança, de quem se sabe frágil, pequeno e pecador e, por isso, totalmente entregue nas mãos de Deus, nas mãos Daquele que nos chama da morte à vida, da mentira à verdade, do desespero à esperança. A nossa confiança e esperança não são uma mera alienação ou uma projecção dos nossos sonhos ou desejos mais íntimos, mas têm a consistência de um Rosto, o Rosto misericordioso de Cristo, que nos sustenta no Seu amor e que enche as nossas lâmpadas tantas vezes apagadas e adormecidas. Por isso, queremos cantar e proclamar que só em Jesus encontramos a força para percorrer com esperança o caminho certo: «A minha alma tem sede de Vós, meu Deus».

Padre Sérgio Leal​

Momento de Reflexão

Este momento não é da minha autoria mas sim do Padre Sérgio Leal que amavelmente aceitou coloborar comigo cedendo as sua palavras para este pequeno blog.

Muito Obrigado Padre Sérgio!

Aqui fica a reflexão desta semana:

“Não somos perfeitos, estamos a caminho!

Hoje ficou a ecoar de modo especial no meu coração o refrão do salmo da missa: «Guardai-me junto de Vós, na vossa paz, Senhor». Para mim, estas palavras podem muito bem ser a síntese da Liturgia da Palavra que a Igreja hoje nos oferece. Nas várias leituras de hoje ressalta o desafio a viver a verdadeira humildade que se traduz na certeza de que somos criaturas frágeis e débeis, mas simultaneamente filhos de um Deus que é amor, que nos ampara e acolhe, que nos aponta o caminho certo e nos guarda junto de Si, na Sua Paz.
A humildade é virtude que nos coloca sempre em caminho e nos faz reconhecer a vida como tarefa inacabada, pois em cada dia haverá sempre mais e melhor a fazer. A humildade de quem reconhece que nem sempre somos capazes de acolher este imenso desafio que Jesus nos lança de fazer da nossa vida lugar de coerência entre aquilo que acreditamos e vivemos, entre aquilo que o Senhor nos chama a ser e aquilo que somos.
Jesus, dirigindo-se à multidão e aos discípulos dizia: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem».
A partir destas palavras de Jesus, importa não discorrer inúmeras considerações acerca dos escribas e fariseus, pois hoje esta palavra é para cada um de nós e bem sabemos como diz o Padre Luigi Maria Epicoco: «É sempre muito difícil fazer aquilo que está certo quando quem te diz para o fazer, na verdade, pode ser um exemplo falhado. As coisas certas deveriam ser sempre acompanhadas de exemplos verdadeiros, mas a maior parte de nós é vítima daquela terrível doença que é «pregar bem e nem sempre fazer tudo bem». Esta consciência deveria sempre levar-nos a nunca nos considerarmos modelos para os outros. Somos todos pobres na mesma barca, e não temos nada a ensinar a ninguém. O máximo que podemos fazer é dar o nosso testemunho de como nos podemos arrepender e converter».
Na verdade, viver a coerência de vida que brota do Evangelho é viver a certeza de que só Jesus é o único Mestre e que só Ele é verdade e coerência em plenitude. Nós somos frágeis e débeis e, deste modo, convidados por Jesus a viver a humildade de quem se sabe a caminho. Não somos perfeitos, somos homens e mulheres chamados por Jesus a percorrer com alegria e generosidade a estrada da santidade e encontrar em cada novo dia a oportunidade de crescer, de amar mais e melhor, de servir com generosidade e alegria.
Jesus não reprova o esforço de quem não consegue viver em plenitude o sonho evangélico, mas a hipocrisia de quem não se coloca a caminho. Não estamos no mundo para ser imaculados e puros, mas para sermos homens e mulheres a caminho, em constante conversão.
Jesus não é um juiz castigador que desiste de nós quando erramos e nos condena irremediavelmente, Jesus é o Bom Pastor que vai à procura da ovelha perdida e a carrega alegremente aos ombros porque «há mais alegria no céu por um pecador que se arrependa do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento». Jesus é o Divino Oleiro que não descarta a sua obra porque não está perfeita, mas que permanentemente a molda para que se vá aperfeiçoando e transformando nesse vaso novo que pode servir o vinho da alegria e celebrar a beleza da vida reencontrada.
Por isso, cantemos e rezemos com a vida que apesar da nossa debilidade e fragilidade, somos amparados pelas mãos do Deus forte, do Deus que ampara as nossas quedas e cura as nossas feridas, do Deus que nos oferece o Seu amor e a Sua Paz para que no mundo ecoe a certeza de que somos homens e mulheres a caminho desse horizonte de realização e felicidade que só em Deus se pode encontrar.”

Padre Sérgio Leal