Momento de Reflexão – 26-11-2017

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO – ANO A

Viva o Rei!

A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo marca o final do Ano Litúrgico. Estamos no último Domingo do Tempo Comum, deste ano litúrgico. Na próxima semana, já estaremos a celebrar o início do novo ano litúrgico com o sagrado tempo do Advento. Por isso, esta celebração é também lugar para darmos graças ao Senhor por este ano litúrgico que termina e lugar para invocar a bênção de Deus para o novo ano que vamos iniciar. É até tempo para fazermos a avaliação e balanço deste ano que terminou. O tempo é dom de Deus e, por isso, devemos ser bons administradores do tempo que o Senhor nos concede viver. Por isso, é tempo para olhar para o percurso percorrido, olhar a nossa vida e pensar aquilo que este ano queremos fazer melhor.

Esta solenidade que hoje celebramos foi instituída pelo Papa Pio XI, em 11 de Dezembro de 1925, com a Carta Encíclica Quas Primas. Os tempos apresentavam-se sombrios e turvos e os céus nublados como os de hoje, e Pio XI, homem de acção, no rescaldo primeira grande guerra, quer colocar no horizonte dos homens e mulheres do Seu tempo que todos somos filhos muito amados de Deus, que o único que reina sobre nós é Jesus Cristo, Rei do Universo e o Seu Reino é um Reino de Paz e de Amor.

A solenidade de hoje convida-nos a isto mesmo, a reconhecer em Jesus Aquele que reina sobre nós e, por isso, devemos perguntar-nos: quem reina sobre nós? O que preenche de sentido a nossa vida? Qual a palavra que orienta o nosso caminho? São muitos os que querem reinar sobre nós e como homens e mulheres muitas vezes nos deixamos fascinar por falsos reis que com promessas enganadoras nos seduzem mais que este Rei que é Jesus cujo modo de reinar é inaudito e inaugura na história humana uma página absolutamente nova.

Olhar para Jesus como Rei é olhar para Aquele que queremos que reine sobre nós, mas reconhecendo que tal como Jesus disse a Pilatos, o Seu reino não é deste mundo e o Seu modo de reinar sobre nós não é prepotente e autoritário, mas cheio de amor e misericórdia.

A Liturgia da Palavra deste Domingo traça para nós o perfil deste Rei, que invocamos como nosso Pastor. Na primeira leitura, o profeta Ezequiel fala-nos de um Rei que reina sobre nós com desvelo e amor paterno e basta olhar os verbos empregues na primeira leitura onde Ezequiel nos fala do nosso Deus como Aquele que cuida de nós como o pastor cuida das suas ovelhas: «irei em busca»; «vigia»; «guardarei»; «apascentarei»; «levarei a repousar»; «procurar a que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada»; «tratarei a que estiver ferida»; «darei vigor»; «velarei».

Como é bom e belo, reconhecer que o nosso Deus reina sobre nós com carinho, amor e bondade. O nosso Rei não é um Rei sentado num trono dourado, com vestes resplandecentes, com uma coroa de pedras preciosas e ouro fino, que tem na mão um ceptro de ouro. O nosso Deus, em Jesus Cristo, reina a partir de um trono que é a Sua Cruz, está despido das Suas vestes, a Sua coroa é de espinhos e na mão tinham-lhe colocado uma cana com a qual lhe bateram.

É novo este Reino que Jesus veio inaugurar. É nova a realidade instaurada por este Deus e Senhor revelado em Jesus Cristo e nós somos participantes deste Reino, convidados a tomar parte dele como escutámos no Evangelho com obras concretas de amor e misericórdia: «Tinha fome, tinha sede, era estrangeiro, estava nu, doente, na prisão: e tu ajudaste-me. Seis passos de um percurso, onde a substância da vida tem como nome “amor”; forma do ser humano, forma de Deus, forma do viver. Seis passos para nos encaminharmos para o Reino, a Terra como Deus a sonha. E para intuir traços novos do rosto de Deus, tão belos que encantam sempre de novo» (Ermes Ronchi).

Embora este reino seja um dom gratuito e entrar nele seja puro dom da imensa bondade de Deus, ele exige de nós um compromisso. Se queremos ser herdeiros deste Reino que não se impõe mas que se oferece a cada um de nós, temos de entrar nesta nova lógica do amor, onde a nossa atenção se volta para aqueles que mais precisam de nós, que se tornam os maiores, por serem os mais pequeninos e aqueles com quem Jesus, o nosso Rei se identifica.

Padre Sérgio Leal

Dia de Greve! – 15-11-2017

A greve dos professores de hoje teve cerca de 90% de adesão, um número histórico. Ainda há esperança, cerca de 10% dos professores optaram por fazer o seu trabalho, nem tudo está perdido.

Os professores reuniram-se em frente à Assembleia da Republica para defenderem os seus direitos. Se por um lado eu até consigo entender parte da justificação para esta manifestação, por outro lado isto levanta uma série de pontos que merecem ser analisados. O primeiro e imperativo destes pontos é: E os alunos?

Quando uma pessoa escolhe seguir a carreira de professor fá-lo por crença na profissão, pelo gosto de ensinar, pela dedicação aos alunos ou fá-lo pelos benefícios financeiros que isso trará à sua carteira? Esperem! Não respondam…deixem-me manter a fantasia por mais uns momentos.

Porque se a resposta for a primeira opção então hoje 90% dos professores esqueceram-se disso e deixaram de fazer aquilo que diz na descrição da profissão deixando os alunos a deambular pelos recreios das escolas. Isto nas escolas de 2º e 3º ciclo, porque nas de 1º ciclo os pais tiveram de arranjar forma de ir lá buscar os filhos pois estas escolas não podiam ficar com os alunos. No 2º e 3º ciclo os alunos eram obrigados a permanecer na escola e hora a hora deslocarem-se às salas para verificar se o professor tinha aderido à greve ou não. Resumindo, um pesadelo de logística para os pais e a preocupação acrescida pela situação dos filhos neste dia.

Ao contrário do que vi noticiado, as aulas este ano lectivo não arrancaram com todos os professores colocados, tenho conhecimento de casos em que a meio do primeiro período ainda não havia professor para a disciplina de História e Geografia de Portugal. Se juntarmos a estas situações as baixas de alguns professores, a falta ocasional de outros, as greves de professores e as greves de auxiliares de educação que sim também levam a que não haja aulas, ficamos com um cenário em que temos que nos perguntar…Como podem os alunos ter aproveitamento escolar? Já ouviram isto não é? Mas geralmente ouvem num género de reparo/reclamação dito pelos professores, como se os alunos em questão se tratassem de casos perdidos pelos quais não se pode fazer nada.

A realidade em que vivemos é esta, um aluno inteligente vai ser bom aluno enquanto a sua inteligência por si só o levar para a frente, um aluno dedicado, vai desenvolver um método de estudo baseado no trabalho e na persistência. Ambos os casos podem ter sucesso. O cenário ideal seria juntar as duas qualidades num aluno só, em casos raros isso acontece. Mas o que vi acontecer em vários casos no meu tempo foi que os alunos dedicados, trabalhadores, acabam por superar os que por natureza até são mais inteligentes. Estes alunos são casos de sucesso, eu admiro alguns amigos meus pelo que os vi conquistar enquanto alunos. Mas o sucesso deles vem da sua personalidade dedicada, trabalhadora e persistente. Também vi vários casos de alunos inteligentes que nunca deram nada de mais na sua vida escolar, casos de potencial desperdiçado. Potencial desperdiçado, este devia ser o ponto da vergonha para os professores, ter um aluno inteligente e não conseguir torna-lo num caso de sucesso, não conseguir tirar dele o tal aproveitamento escolar. Os professores queixam-se cada vez mais da falta de qualidade dos alunos, que não é possível fazer omeletes sem ovos, que já é um desafio tremendo conseguir mante-los controlados para poder levar a aula até ao fim. Então e quando aparecem estes alunos com potencial e também não conseguem tirar deles aproveitamento?

Com tantas faltas e ausências da escola é difícil tirar aproveitamento seja de que tipo de aluno for. Mas parece-me que neste momento os professores talvez se devessem preocupar mais com a qualidade do trabalho que desenvolvem do que com a questão financeira das suas profissões. Existem profissionais a ganhar muito menos e não têm o “privilégio” de ponderar uma greve. A situação comum é mais do género, não estás bem com o emprego que tens…procura outro, a porta é ali. Mas os funcionários públicos continuam a ser uma classe à parte.

Eu já sei que ninguém trabalha de graça, mas também não é o que está em questão aqui, ninguém quer que os professores trabalhem de graça. Eu acho que exercem uma profissão que merece ser bem remunerada…quando trabalham para o merecer. Um professor tem nas mãos o futuro, o futuro de cada aluno, o futuro de cada profissão, o futuro de cada país. O professor é o artista, o mentor, que molda o futuro, que ajuda a construir futuros individuais e pilares para o futuro colectivo da nação. E este trabalho só será bem feito quando conseguirem tirar aproveitamento máximo dos alunos que lhes forem parar às mãos, sejam pedras ou diamantes, porque um bom artista também transforma uma pedra num monumento. E para termos esse aproveitamento máximo da parte dos alunos é preciso dedicação máxima da parte dos professores à carreira que escolheram seguir, á profissão, à verdadeira e correcta definição da profissão quero dizer.

Porque greves, por muito que eu tente entender os motivos…vão haver sempre motivos, justificações, desculpas…agora é pelas carreiras congeladas. Mas já os professores faziam greves antes disso…e temo que vão continuar a faze-las depois de conseguirem os seus objectivos nesta questão, por um qualquer outro motivo. E isto falando daqueles professores que realmente se deslocaram à Assembleia da Republica para participar da manifestação, por que daqueles que só foram à boleia para tirarem o dia (sem vencimento, ressalve-se) nem vou comentar.

Sou pai, gostava que os professores se lembrassem da parte em que têm uma profissão que gostam e se dedicassem a ela para eu poder vê-los tirar o aproveitamento máximo dos meus filhos e não o aproveitamento que for dando.

Que me perdoem por este texto os 10% que não aderiram à greve e alguns professores por quem tenho muita admiração e respeito, mas estes são a excepção e não a regra infelizmente.

Mário Pereira

Cantinas Escolares – 13-11-2017

Nos últimos 3 anos a ASAE fiscalizou cerca de 800 escolas e instaurou 228 processos de contra-ordenação e 20 processos crime. Este ano lectivo têm sido expostos, mais do que nunca casos graves de falhas na alimentação escolar.

A nível local, no concelho de Santa Maria da Feira, este ano lectivo já existiram queixas de má qualidade da comida nas escolas EB Nº.1 e Nº.2 de Santa Maria da Feira e na Escola Básica e Secundária Coelho e Castro de Fiães.

A monitorização das cantinas por parte dos pais é articulada pelas Associações de Pais e não são permitidas visitas de surpresa, sendo as visitas agendadas tem de ser colocada em causa a eficácia destas monitorizações. Perante a torrente de reclamações colocadas por alunos e encarregados de educação as respostas da vereadora da educação Cristina Tenreiro têm sido muito escassas e superficiais, deixando a desejar no seu compromisso para com a defesa dos melhores interesses dos alunos das escolas do concelho.

Interesses que com certeza estão a ser defendidos são os de quem lucra com os contractos realizados entre as escolas e as empresas privadas que asseguram o comer para as cantinas.

Longe vão os tempos em que as escolas podiam argumentar com credibilidade que as refeições escolares em muitos casos eram a única refeição decente que os alunos comiam em 24horas. Longe vão também os tempos em que fazia sentido a escola fechar quando as cozinheiras da cantina faziam greve, pois actualmente não se entende esta justificação visto que as refeições não são preparadas na escola e colocar a comida num prato até a senhora da limpeza o pode fazer, não é preciso nenhum curso universitário para essa ciência. A única justificação que faz algum sentido é que é bom ir à boleia dessa justificação desenquadrada com o panorama actual para se fechar a escola e tirar o dia para lazer.

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares afirmou recentemente numa entrevista à TSF que as refeições escolares deviam ser confeccionadas nas escolas, que têm cantinas e cozinhas para o fazer. Eu concordo com ele pois até à data ainda não se ouviu qualquer queixa vinda de escolas que funcionam neste sistema. Manuel Pereira afirma ainda e com razão que confeccionar as refeições nas escolas dá muito trabalho mas garante uma qualidade que as empresas privadas não têm conseguido apresentar. Eu creio que o problema está essencialmente na parte do trabalho, hoje em dia poucos o querem. E isso abre portas para uma exploração sem precedentes do lado financeiro da questão.

A defesa destas empresas privadas tem sido que não é possível apresentar a qualidade pretendida com os preços praticados, ou seja querem mais dinheiro. Mas as escolas onde as refeições são confeccionadas nas suas cozinhas por cozinheiras da escola conseguem em vários casos até apresentar valores cerca de 20 cêntimos abaixo dos valores estipulados pelo Ministério da Educação.

Parece-me que ao invés de se instaurar processos disciplinares aos alunos que se têm queixado de forma pública sobre esta vergonha que se tem passado nas cantinas escolares, alguém devia pensar seriamente em começar a fazer o trabalho que lhes compete e começar a defender o interesse dos alunos, do futuro que eles representam e não os interesses financeiros de quem gere e das empresas privadas beneficiadas por esta falta de rigor e de critério com que temos vivido.

Já chega! Já chega de quem pode e manda só pensar em encher os bolsos, já chega de tudo ser medido pelo lado monetário, já chega de cada vez tentarem explorar mais as famílias que já travam uma luta constante para se conseguirem manter à superfície e sobreviver num cenário que parece favorecer exclusivamente quem já tem muito e quem só pensa em ganhar mais.

Estamos a falar das escolas, do ensino, da educação! Estamos a falar das nossas crianças e do futuro que elas representam! Senhores dirigentes das escolas, vereadores da Educação, presidentes de Câmara Municipal, Ministério da Educação, Primeiro Ministro, Presidente da República…Hello!!! Temos um salário mínimo miserável mas contribuímos como nos é exigido. Dirigimo-nos às urnas e depositamos a nossa confiança em vós. Demoramos bastante tempo até começarmos a ver as coisas…Mas não exagerem ao ponto de se tornar ridículo como está a acontecer. Mostrem um pouco de dignidade e orgulho nos cargos que representam e façam o que vos compete.

Por uma vez nas vossas carreiras tomem decisões onde considerem o futuro, onde considerem o povo, onde considerem o lado humano da coisa. Vocês têm mais dinheiro que nós, mas nós temos que viver com as consequências do que vocês decidem não pelo vosso dinheiro, mas porque nas eleições escolhemos acreditar na vossa competência e não na profundidade da vossa carteira!

Mário Pereira

MOMENTO DE REFLEXÃO – 12-11-2017

«Senhor, senhor, abre-nos a porta!»

Depois de ter celebrado a Eucaristia e ter escutado as leituras que hoje o Senhor nos oferece como dom e graça, ficou a ecoar no meu coração a palavra “esperança”. De algum modo, para mim, no aqui e agora da vida e do tempo, esta palavra é como que a síntese ou a palavra-chave que nos permite dar unidade à Palavra Proclamada.

Somos homens e mulheres que se deixam fascinar por Jesus, o Pregador da Galileia, o Rosto misericordioso do Pai que nos convida a olhar a vida como um tempo de espera vigilante e confiante porque Ele é o Senhor do Tempo e da História, porque a Sua vida rasga para nós horizontes de esperança e nos oferece um horizonte de realização e felicidade que só Ele nos pode oferecer.

O cristão vive nesta atitude de espera permanente, na atitude de quem sabe que o Senhor veio, vem e virá. Queremos estar vigilantes para acolher Aquele que é a Sabedoria do Pai de que nos fala a primeira leitura Sabedoria que «se deixa ver facilmente àqueles que a amam e faz-se encontrar aos que a procuram». Jesus, a Sabedoria do Pai, é a Ressurreição e a vida, como nos recorda S. Paulo na primeira carta que escreve aos Tessalonicenses. O Ressuscitado vivo e glorioso, actuante e presente na história e na vida da humanidade é o horizonte de esperança mesmo diante do limite maior da nossa existência, de tal modo que a morte se torna porta para a vida, o rebentar das águas para uma vida em plenitude.

É este Jesus que nós queremos esperar vigilantes, com lâmpadas acesas e com as almotolias cheias de azeite. Queremos ser homens e mulheres que vivem com o coração disponível para acolher a luz que brota do coração de Deus. Esta arte de viver a esperança, esta arte de viver em atitude de vigilância tem como segredo deixar-se fascinar, moldar e transformar por Aquele que esperamos em cada dia e que não vem atrasado, mas que no amor nos antecipa e, por isso, nos amou primeiro para que, com Ele e como Ele, aprendamos a amar aqueles que se encontram connosco na estrada da vida.

«Senhor, senhor, abre-nos a porta!», assim gritam aquelas virgens que não estavam preparadas e que tendo ido comprar azeite voltaram quando a porta estava já fechada. Ouve-se lá de dentro a resposta: ‘em verdade vos digo: Não vos conheço’. Para mim, sempre me pareceu muito duro este diálogo. Como pode, Aquele Jesus de Nazaré que afirmou em alta voz ser a ‘Porta das Ovelhas’, ‘caminho, verdade e vida’, ‘Pastor que vai ao encontro da ovelha perdida’ ser este esposo que apenas responde: «não vos conheço». Onde está o misericordioso Mestre da Galileia que vive de porta aberta para a todos acolher e que como Bom Pastor conhece cada ovelha pelo nome? É o mesmo Jesus? Sim, é o mesmo Jesus: manso e humilde de coração, que propõe a radicalidade de vida e que nos provoca e desinstala para olharmos a vida com o realismo que ela traz consigo, mas simultaneamente com a esperança que brota da Sua vida nova e ressuscitada. Jesus desafia-nos a entrar dentro do nosso coração, a mergulhar no mais íntimo de nós. Reflectindo nestas palavras, o

Papa Francisco hoje na meditação do Angelus propunha uma reflexão pessoal e decisiva: «um dia será o último. E se fosse hoje, como estaria preparado?».

Esta pergunta é para mim e para ti, mas importa responder a esta pergunta com um coração cheio de confiança e esperança, de quem se sabe frágil, pequeno e pecador e, por isso, totalmente entregue nas mãos de Deus, nas mãos Daquele que nos chama da morte à vida, da mentira à verdade, do desespero à esperança. A nossa confiança e esperança não são uma mera alienação ou uma projecção dos nossos sonhos ou desejos mais íntimos, mas têm a consistência de um Rosto, o Rosto misericordioso de Cristo, que nos sustenta no Seu amor e que enche as nossas lâmpadas tantas vezes apagadas e adormecidas. Por isso, queremos cantar e proclamar que só em Jesus encontramos a força para percorrer com esperança o caminho certo: «A minha alma tem sede de Vós, meu Deus».

Padre Sérgio Leal​

Momento de Reflexão

Este momento não é da minha autoria mas sim do Padre Sérgio Leal que amavelmente aceitou coloborar comigo cedendo as sua palavras para este pequeno blog.

Muito Obrigado Padre Sérgio!

Aqui fica a reflexão desta semana:

“Não somos perfeitos, estamos a caminho!

Hoje ficou a ecoar de modo especial no meu coração o refrão do salmo da missa: «Guardai-me junto de Vós, na vossa paz, Senhor». Para mim, estas palavras podem muito bem ser a síntese da Liturgia da Palavra que a Igreja hoje nos oferece. Nas várias leituras de hoje ressalta o desafio a viver a verdadeira humildade que se traduz na certeza de que somos criaturas frágeis e débeis, mas simultaneamente filhos de um Deus que é amor, que nos ampara e acolhe, que nos aponta o caminho certo e nos guarda junto de Si, na Sua Paz.
A humildade é virtude que nos coloca sempre em caminho e nos faz reconhecer a vida como tarefa inacabada, pois em cada dia haverá sempre mais e melhor a fazer. A humildade de quem reconhece que nem sempre somos capazes de acolher este imenso desafio que Jesus nos lança de fazer da nossa vida lugar de coerência entre aquilo que acreditamos e vivemos, entre aquilo que o Senhor nos chama a ser e aquilo que somos.
Jesus, dirigindo-se à multidão e aos discípulos dizia: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem».
A partir destas palavras de Jesus, importa não discorrer inúmeras considerações acerca dos escribas e fariseus, pois hoje esta palavra é para cada um de nós e bem sabemos como diz o Padre Luigi Maria Epicoco: «É sempre muito difícil fazer aquilo que está certo quando quem te diz para o fazer, na verdade, pode ser um exemplo falhado. As coisas certas deveriam ser sempre acompanhadas de exemplos verdadeiros, mas a maior parte de nós é vítima daquela terrível doença que é «pregar bem e nem sempre fazer tudo bem». Esta consciência deveria sempre levar-nos a nunca nos considerarmos modelos para os outros. Somos todos pobres na mesma barca, e não temos nada a ensinar a ninguém. O máximo que podemos fazer é dar o nosso testemunho de como nos podemos arrepender e converter».
Na verdade, viver a coerência de vida que brota do Evangelho é viver a certeza de que só Jesus é o único Mestre e que só Ele é verdade e coerência em plenitude. Nós somos frágeis e débeis e, deste modo, convidados por Jesus a viver a humildade de quem se sabe a caminho. Não somos perfeitos, somos homens e mulheres chamados por Jesus a percorrer com alegria e generosidade a estrada da santidade e encontrar em cada novo dia a oportunidade de crescer, de amar mais e melhor, de servir com generosidade e alegria.
Jesus não reprova o esforço de quem não consegue viver em plenitude o sonho evangélico, mas a hipocrisia de quem não se coloca a caminho. Não estamos no mundo para ser imaculados e puros, mas para sermos homens e mulheres a caminho, em constante conversão.
Jesus não é um juiz castigador que desiste de nós quando erramos e nos condena irremediavelmente, Jesus é o Bom Pastor que vai à procura da ovelha perdida e a carrega alegremente aos ombros porque «há mais alegria no céu por um pecador que se arrependa do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento». Jesus é o Divino Oleiro que não descarta a sua obra porque não está perfeita, mas que permanentemente a molda para que se vá aperfeiçoando e transformando nesse vaso novo que pode servir o vinho da alegria e celebrar a beleza da vida reencontrada.
Por isso, cantemos e rezemos com a vida que apesar da nossa debilidade e fragilidade, somos amparados pelas mãos do Deus forte, do Deus que ampara as nossas quedas e cura as nossas feridas, do Deus que nos oferece o Seu amor e a Sua Paz para que no mundo ecoe a certeza de que somos homens e mulheres a caminho desse horizonte de realização e felicidade que só em Deus se pode encontrar.”

Padre Sérgio Leal

Entrevista: Padre Sérgio Leal

Graças à internet, que torna este mundo na aldeia global, tive o privilégio de poder trocar algumas palavras com o Padre Sérgio Leal, anterior pároco nas Freguesias de Arrifana, Sanfins e Romariz. O Padre Sérgio Leal encontra-se actualmente a estudar em Roma por indicação do recentemente falecido Bispo D. António Francisco dos Santos. Mas antes de seguir nesta missão tive a oportunidade e felicidade de me cruzar com ele enquanto pároco na freguesia de Arrifana no período em que lá vivi. Trata-se de um padre ainda muito jovem, mas senhor de uma presença já capaz de abraçar e chamar a si a atenção dos seus paroquianos. E em três pequenos episódios tocou a minha vida de uma forma marcante e que despertou a minha atenção para a sua visão abrangente e moderna criando um contraste com a forma como até então eu via a religião e a Igreja. Vi nele um padre à imagem do actual Papa Francisco e da sua ideologia de uma Igreja que abraça todos e caminha com todos. Um rumo que eu acredito que a Igreja precisa de seguir. Não sei qual será a ideia que o novo Bispo para a nossa Diocese trará para o Padre Sérgio e para os outros padres que com ele se encontram em Roma a estudar, mas acredito que devia seguir o rumo traçado pelo anterior Bispo pois acredito ser o caminho certo para seguir e acredito que este teve muito mérito nos homens que escolheu para esta missão. Que não seja esta oportunidade desperdiçada.

Nome: Sérgio Filipe Pinho Leal
Data de Nascimento: 09/09/1985
Data de Ordenação: 08/07/2012
Naturalidade: Paço de Sousa (Penafiel)
Habilitações Académicas: Mestrado Integrado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa
(a fazer a Especialização em Teologia Pastoral na Pontifícia Universidade Lateranense – Roma)

As perguntas: 

Padre Sérgio, que recordações guarda do seu tempo como pároco na freguesia de Arrifana? 

Fui pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Arrifana do dia 8 de Setembro de 2013 a 15 de Agosto de 2016. Guardo no meu coração as mais belas recordações destes anos em que vivi e servi a paróquia de Arrifana. Quando entrei na paróquia, disse na primeira Eucaristia que celebrei que vinha para conhecer, amar e servir. Na verdade, são estas as grandes recordações que guardo. Guardo no meu coração a alegria de conhecer pessoas fantásticas, que me ensinaram a amar e a servir. Com as minhas limitações e fragilidades, sei que ficou muita coisa por fazer, mas guardo no meu coração a alegria contagiante das crianças, adolescentes e jovens da catequese. Guardo no meu coração a força e a luta das famílias que foram para mim um testemunho de fidelidade e serviço à Igreja e ao Mundo. Guardo no meu coração a ternura e o carinho dos idosos e doentes que me faziam sentir um filho amado e acariciado pelas suas palavras e orações. Guardo no meu coração tantos rostos, nomes, gestos e palavras que ao longo desse tempo foram sinal da beleza que é ser cristão, caminhar em Igreja e encontrar em Jesus Cristo Aquele que dá sentido à nossa vida.

Como surgiu esta oportunidade de estudar em Roma e em que consistem os estudos que está a realizar? 

Eu estou a estudar Teologia Pastoral em Roma a pedido do nosso saudoso bispo D. António Francisco dos Santos. No dia da nossa ordenação, colocamo-nos ao serviço da Igreja, onde a Igreja nos quiser e precisar de nós. Por isso, tendo o Sr. D. António, nosso bispo, entendido que precisava de mim nesta missão, respondi-lhe sim e procuro servir a Igreja neste momento, nesta missão de estudos e de enriquecimento para depois melhor poder servir a Igreja. A especialização que fui enviado a fazer é de Teologia Pastoral com especialização em Pastoral Catequética. Nesta primeira fase, estou a estudar a Teologia Pastoral que é a ciência teológica que estuda e projecta a acção da Igreja na sua relação com o mundo e na proximidade com as pessoas. Neste curso abordamos áreas como a Diocese, a Paróquia, a Nova Evangelização, a Pastoral Familiar, a Pastoral Juvenil entre tantas outras áreas. Numa fase posterior, desenvolverei uma especialização com vista ao grau de doutoramento na área da Catequese.

De que forma podem estes estudos integrar-se e contribuir para a melhoria da estrutura da Igreja. Que aptidões lhe trarão e qual será a sua função no futuro? Vão mudar alguma coisa para si?

Quando o Sr. D. António Francisco dos Santos me enviou para Roma e me pediu que fosse desenvolver os meus estudos pediu-me que estudasse a Teologia Pastoral para ajudar na renovação pastoral da diocese, pensando como hoje, no nosso tempo podemos dar uma resposta mais eficaz, mais consciente da realidade hodierna e mais capaz de corresponder com as necessidades dos homens e mulheres de hoje. Por isso, nesta primeira fase os meus estudos centram-se nas várias áreas da pastoral diocesana, as paróquias, os secretariados diocesanos, onde a Paróquia surge como um lugar privilegiado de acção pastoral. Numa segunda fase, o Sr. D. António entendia que os meus estudos deveriam aprofundar a pastoral catequética tendo em conta que é uma área prioritária hoje. Espero que os meus estudos sejam um contributo para esta renovação pastoral e espero estar à altura daquilo que me pedem. Quanto ao futuro, ele está sempre nas mãos de Deus e isto é um motivo para viver animado, com confiança e esperança. Contudo, neste momento esperamos um novo bispo diocesano e devemos aguardar quais os projectos e expectativas que ele traz consigo. Para mim, mantenho a minha disponibilidade para servir a Igreja onde o bispo precisar de mim, quer seja no trabalho paroquial, quer seja em tantos outros serviços onde somos chamados a colaborar e a servir numa diocese. Não sei o que me espera, mas sei que será bom porque está entregue ao desígnio amoroso de Deus.

Numa altura em que os jovens parecem cada vez mais distantes da religião, o que pensa ser necessário fazer para inverter esta tendência? 

Em primeiro lugar, devo dizer que sinto que muitos jovens estão ainda próximos da Igreja e a fazer caminho com a Igreja e para isso basta pensar nas actividades como as Jornadas Mundiais da Juventude ou outras actividades directamente preparadas para eles. Contudo, são muitos os jovens que ainda estão longe da Igreja. Sinto que os jovens continuam a interrogar-se pelo sentido da vida, pela transcendência, pela fé e no mais íntimo dos seus corações reside este desejo de sentido e plenitude. O desafio da Igreja neste momento é fazer os jovens descobrir a beleza da fé, descobrir que seguir Jesus é encontrar Alguém que nos chama a ser felizes e nos convida a viver o amor. A Igreja tem de levar aos jovens a certeza que o Evangelho e Jesus Cristo tem que ver com as suas vidas e as quer tornar melhores e mais felizes.

A Bíblia é um dos livros, senão mesmo o livro mais complexo que existe. E é o centro da religião católica. Concorda que as sessões de catequese abordam a Bíblia de forma muito superficial? Não acha que um estudo mais aprofundado e mais centrado na Bíblia traria mais benefícios quer para os jovens que frequentam a catequese quer para a religião no seu todo? 

A Bíblia mais do que um livro é um conjunto de livros que narra a beleza da fé e a experiência de um Deus que se revela, que se dá a conhecer através da Palavra que nos dirige. Gosto muito de uma frase de um texto do Concílio Vaticano II que afirma que na Bíblia «Deus fala aos homens como amigos». A Bíblia é esse lugar privilegiado onde Deus nos fala e por isso, deve ter um lugar central na vida da Igreja e na sua acção de evangelização, tal como é a catequese. Não se pode falar de Jesus e anunciar o Seu Evangelho sem um contacto directo com a Bíblia. Por isso, a leitura da Palavra de Deus e o aprofundamento dos conhecimentos bíblicos trará sempre muitos benefícios para a missão da Igreja. Hoje são muitos os estudos e estudiosos que nos permitem compreender mais e melhor na riqueza que a Bíblia nos oferece. Recordo que neste momento, temos também em Roma um padre da nossa diocese a estudar Bíblia para que nos possa ajudar mais e melhor nesta área. Na Bíblia, Deus fala-nos e aponta-nos o caminho a seguir, por isso, a Bíblia afirma que a Palavra de Deus é farol que ilumina os nossos passos.

Como vê o futuro da religião? E como pensa que se poderia melhorar a acção da igreja ao nível das paróquias? 

A religião é algo inerente à experiência humana e desde as mais remotas e antigas civilizações estava presente esta dimensão religiosa. Por isso, o homem e a mulher de cada tempo tem necessidade de satisfazer esta sede de transcendência e esta necessidade de dar resposta às questões limite do sentido da nossa existência. Basta pensar que apesar de hoje afirmarmos a crise das religiões instituídas, há uma maior procura das correntes de espiritualidade orientais ou outras formas de religiosidade. Por isso, esta dimensão religiosa estará sempre presente. Contudo, importa fazer o caminho do homem religioso ao homem crente e que descobre a beleza da fé cristã, na alegria de caminhar na Igreja e em Igreja. Ao nível paroquial e local importa acolher aquele que tem sido o desafio do Papa Francisco: mais do que uma pastoral de manutenção é urgente uma conversão pastoral em chave missionária, isto é, que nos coloca como Igreja de portas abertas, que acolhe a todos, que caminha com todos, que não deixa ninguém de fora e que a cada um apresenta a radicalidade e a exigência da alegria de seguir Jesus Cristo.

Diga uma citação\passagem da Bíblia que considere relevante e porquê? 

São muitos os textos e passagens bíblicas que me marcam ao longo do meu percurso. Contudo, quando penso na minha vida e na minha missão ecoa sempre no meu coração as palavras de S. Paulo (2 Cor 4,7): «Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso». Esta foi a frase que escolhi como lema na minha ordenação e que acompanha todo o meu percurso. Sinto muito próximas estas palavras quando penso que Deus me escolheu e depositou em minhas mãos a Sua mensagem e o Seu amor como um precioso tesouro, mas sei que não passo de frágil barro, que tenho limites e fragilidades, que nem sempre consigo viver na minha vida a grandeza e a profundidade do mistério de amor que Deus coloca em minhas mãos. Sou pobre e frágil barro, onde se deposita o tesouro do amor de Deus, mas sou um barro, amado, perdoado e amparado pelo amor de Jesus. Esta passagem pode ser também preciosa na actual situação de missão em que nos encontramos, onde a Igreja se situa como Mãe frágil e vulnerável mas que transporta consigo a força do amor e da ternura de Deus que tem um coração imenso onde todos têm lugar.

Gostaria de deixar algumas palavras para os/as catequistas actualmente em funções e para os jovens que frequentam a catequese?

Aos catequistas quero dirigir-lhes uma palavra de agradecimento, alento e esperança. Os catequistas são um precioso tesouro da Igreja pois dão do seu tempo e disponibilizam as suas vidas para um trabalho que é tão importante na vida da cristã. No meio de uma sociedade, onde todos temos tantas coisas para fazer os catequistas dão gratuita e generosamente do seu tempo para levarem aos mais novos a alegria de ser cristão. Por isso, dirijo-lhes uma palavra de agradecimento. Quero também dar-lhes uma palavra de esperança, pois ainda que tantas vezes não vejam de modo imediato os frutos do seu trabalho, há razões para a esperança, pois o trabalho do catequista é como o trabalho do semeador: a sua missão é semear nos corações daqueles que lhes estão confiados e rezar para que o Espírito Santo faça germinar essa semente no coração das crianças, adolescentes e jovens. Para isso, devem também empenhar-se em formar-se e aprofundar os seus conhecimentos para que possam estar cada vez mais à altura dos desafios do nosso tempo.

Às crianças, adolescentes e jovens da catequese quero apenas recordar-lhes aquilo que tantas vezes lhes disse quando era pároco: o Deus do amor criou-nos para nos amarmos e sermos felizes e experimentarmos uma felicidade que tem sabor de eternidade e que nos projecta para o Céu. Por isso, abri o vosso coração a Jesus. Não tenhais medo! Conhecei mais e melhor Jesus! Encontrai-vos com Ele, pela oração, pela leitura da Bíblia, na comunidade cristã. A Igreja, nascida do Coração de Deus, ainda que tantas vezes, com os seus defeitos e limitações humanas, quer ser a Casa do Amor onde cada homem e cada mulher pode conhecer um Deus que tem um coração onde todos têm um lugar e que por isso, nos acolhe a todos para nos fazer experimentar a verdadeira felicidade. Conhecei Jesus e deixai-vos fascinar pelo Seu amor. Abraçai o projecto de amor que Jesus tem para cada um de vós e leva a todos a felicidade de O seguir.

Para finalizar, tenho que lhe fazer a pergunta que provavelmente estará na cabeça de quem consigo teve o prazer de conviver durante a sua passagem pela freguesia de Arrifana. Pensa que no seu futuro estará um eventual regresso a esta freguesia? 

Como disse numa das perguntas anteriores, fui enviado para Roma pelo meu bispo e estarei sempre onde o meu bispo me quiser e a Igreja precisar de mim. É esta a nossa missão como padres diocesanos: estar onde Deus quer e a Igreja nos pede por intermédio do nosso bispo. Por isso, o meu futuro está nas mãos de Deus e estarei disponível para ir onde Deus me enviar porque sei que aí serei feliz e poderei ajudar os outros a encontrar em Jesus a alegria do seu amor e da sua ternura.

 Mário Pereira